Nas últimas semanas, o tema do aborto legal, especialmente em casos onde a mulher foi vítima de violência sexual, tem sido amplamente discutido. Esse tipo de aborto é permitido quando a gravidez resulta de um estupro. Como psiquiatra, me pergunto constantemente como podemos prevenir situações tão traumáticas, e acredito firmemente que essa prevenção deve começar na infância.
É fundamental educar as crianças desde cedo sobre o que são partes íntimas. Devemos explicar que o xixi e o cocô são funções do corpo que requerem cuidado e privacidade. É importante que elas entendam que essas partes do corpo são privadas e que não devem ser mostradas a ninguém. Devemos definir claramente quem pode ajudá-las no banheiro ou vê-las nessas situações, restringindo essa lista a pessoas de confiança, como a mãe, o pai ou um professor. É essencial que essa lista seja extremamente limitada, pois a maioria dos casos de violência sexual na infância ocorre com pessoas próximas, incluindo parentes da criança.
Manter uma relação de confiança com a criança é crucial. Devemos sempre reforçar que entre nós e elas não há segredos. Devemos deixar claro que, mesmo que alguém tenha dito para não contar ao pai ou à mãe, ou mesmo que a criança tenha sido ameaçada, ela deve sempre se sentir segura para falar conosco. A criança deve saber que, se alguém tocar nas partes íntimas dela de uma forma que a faça se sentir desconfortável ou com dor, ela deve nos contar imediatamente.
Essa comunicação aberta e contínua é vital. Precisamos repetir para a criança, de forma compreensível e não alarmante, que seu corpo é seu e que ela tem o direito de proteger sua privacidade. A mensagem deve ser clara: se alguém fizer algo que ela não goste ou a machuque, ela deve nos avisar sem medo.
A prevenção da violência sexual começa com a educação e a construção de uma relação de confiança com as crianças. Precisamos estar atentos e ser proativos na proteção de nossos filhos, ensinando-os sobre seus corpos e garantindo que se sintam seguros para nos contar qualquer coisa que os incomode. Só assim poderemos, de fato, começar a evitar que tragédias como a necessidade de um aborto legal por violência sexual ocorram.
🧠 Médica Psiquiatra, especialista em Infância e Adolescência. Realiza atendimento de crianças, adolescentes e adultos.
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